
Marcelo Whately
Aspirante a especialista em carne bovina: agregação de valor e promoção de seu consumo. Analista de mercado da Equipe BeefPoint de set/11 a fev/13.
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Recria/engorda em pasto alugado dá resultado?
A atividade de pecuária de corte em pastagem alugada (arrendamento) é rentável? Um investidor e pecuarista avaliou detalhadamente esta opção em pastagens no norte do Mato Grosso, região de Alta Floresta. Segundo este pecuarista, o arrendamento é muito utilizado em casos de reforma de pasto e redução da lotação da fazenda dependendo da condição das pastagens: “o arrendamento é utilizado como um “pulmão” para a fazenda, para “desafogar o pasto”.
Em outros casos, o aluguel de pasto também pode ser utilizado para aplicação de capital em momentos de poucas opções de investimento financeiro. Porém, a rentabilidade do arrendamento era uma dúvida antiga e foi questionada pelo investidor, já que anteriormente a atividade era efetuada sem muita atenção à sua viabilidade financeira.
Desta forma, aqui segue a apuração de alguns resultados de uma operação de recria e engorda em pasto alugado no Mato Grosso, região de Alta Floresta, a partir de 2010. Estão resumidos os resultados dos abates dos três primeiros lotes (total de 939 cabeças) para se ter na ponta do lápis o retorno do investimento.
De forma geral, os animais são abatidos com mais de 18@, com idade estimada entre 3,0 e 3,5 anos e tempo de pastejo variável entre 1,0 e 2,5 anos, dependendo da idade do lote comprado.
Características da operação:
- Aluguel de pasto mensal em pastagens de braquiária;
- Gado anelorado encontrado na região sem procedência definida, com apartação na compra;
- Regime extensivo sem fornecimento de ração ou proteinado;
- Os valores do custeio incluem todos os gastos com mão de obra, viagens, produtos veterinários, sal mineral, fretes etc…;
- Compra do gado, apartação, manejo e acompanhamento de abate realizados e gerenciados pela mesma pessoa.
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LOTE 01: 480 cabeças de era mais adiantada (+24 meses)
Neste caso, o pecuarista explicou que foi uma boa oportunidade de compra, pois a arroba estava valendo R$70,00 e o gado era mais erado, consequentemente tendo um período mais curto de pastejo para terminação. Foram efetuados dois abates, e o preço médio de venda foi R$89,00/@, resultando em taxas de retorno do investimento maiores do que aplicações bancárias de referência.
Apartação no curral após a compra para distribuir nas pastagens:
1.1) Foram feitos dois abates para liquidar o lote:
1.2) Resumo do custeio – média aproximada de R$ 17,50/boi/mês
1.3) Cálculo do retorno do investimento*:
*TIR = taxa interna de retorno
Os cálculos da TIR consideram o investimento inicial, o desembolso mês a mês das despesas e a receita liquida nos abates.
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Lote 2: 306 cabeças de bezerros (-18 meses), e abate do lote total.
Neste caso, o período de pastejo foi maior que o do Lote 01 devido à idade do gado comprado, e a arroba no dia da compra também estava mais barata que no dia da venda.
Fotos ilustrando as características do gado (lote 2), em junho/2011:
Fotos do mesmo gado em Fev/2013, data próxima ao abate:
2.1) Resumo da operação:
2.2) Resumo do custeio: – media aproximada de R$ 19,00/boi/mês
2.3) Cálculo do retorno do investimento*:
*TIR = taxa interna de retorno
Os cálculos da TIR consideram o investimento inicial, o desembolso mês a mês das despesas e a receita liquida nos abates.
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Lote 3: Abate parcial de 153 cab, lote com total de 430 cabeças.
Já neste terceiro lote, o investidor chamou a atenção para o preço da arroba na compra, cotada à R$94,00 em nov/2010. Importante observar também que somente 153 cabeças foram abatidas de um total de 430, portanto este é o “lote cabeceira” e o restante será abatido até julho ou agosto/2013 (atualização dos dados em breve).
Mesmo com o preço alto na compra e venda à R$86,00/@, o investidor conseguiu taxas positivas e superiores à diversas taxas financeiras.
Fotos do lote 60 dias antes do abate:
3.1) Resumo da operação:
3.2) detalhamento do custeio: Media aproximada de R$ 21,55/boi/mes
3.3) Cálculo do retorno do investimento*:
*TIR = taxa interna de retorno
Os cálculos da TIR consideram o investimento inicial, o desembolso mês a mês das despesas e a receita liquida nos abates.
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Como pontos importantes desta operação, ele cita que o sistema é extensivo e o manejo dos animais deve ser adequado (poucas idas ao curral e lotes fixos). O manejo das pastagens também é fundamental, pois a lotação permanente deve ser utilizada de acordo com as condições da pastagem e do clima regional. Como pode-se perceber, o investidor é atento aos custos, por isso utiliza somente sal mineral e poucas medicações (somente as necessárias).
Conforme o pecuarista, o negócio de arrendamento permite a avaliação de seus resultados exclusivamente sobre a operação, sem considerar a propriedade da terra e/ou benfeitorias. Assim, a comparação entre lotes e com outras aplicações financeiras fica facilitada.
Outra questão importantíssima destas condições é a seleção dos animais comprados. O responsável pela apartação está presente em todas as compras e aparta visualmente conforme sua experiência. Além da compra, a negociação e a manutenção do relacionamento com os fornecedores faz parte de seu trabalho.
Como dificuldades encontradas atualmente pelo investidor para aumento da quantidade de cabeças são a expansão da agricultura e a consequente redução da área de pastagem disponível na região.
*Não está considerado nos rendimentos calculados o imposto de renda que na manutenção/aumento da atividade são reduzidos pela reposição do gado e custeio considerados como despesa.
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